Maquiagem (07/03/2023)
Qual bandeira? (23/10/2022)
Qual é a bandeira que tu ostentas,
povo sofrível e sofrido?
Qual é a bandeira que tu ostentas,
defendendo lobo em pele de cordeiro,
tu também lobo em pele de cordeiro…?
Qual é a bandeira que tu ostentas
para exibir o teu umbigo sujo?
Qual é a bandeira que tu ostentas
para se sentir parte de algo,
para se fazer protagonista do mal?
Qual é a bandeira que tu ostentas,
apropriando-se do que não é teu?
A minha bandeira não é vermelha,
nem verde e amarela.
É branca!
Ou negra, ou multicor…
Tremula de tanta tensão
e está salpicada de sangue e lágrimas.
Manhãs de sábado (03/09/2022)
Erechim se transforma
numa cidade grande
nas manhãs de sábado!
Ou melhor,
Erechim regurgita
problemas de cidade grande
nas manhãs de sábado…
Vendedores informais
trocam muamba
que ninguém deseja
pela refeição do dia.
Pessoas diversas,
incógnitas para mim,
insignificantes para o poder,
tentam me convencer
de que sua fome é tanta
que vai além do sábado.
Porta-vozes de políticos
incógnitos e insignificantes
tentam me convencer
de que a sorte
dos vendedores informais,
dos famintos persistentes,
de todos, enfim,
mudará do voto em diante.
Mas só a sorte
dos políticos e asseclas
empanturrar-se-á
nos próximos fins de semana.
Pois a sorte, a fome, a sina…
não terão um fim muito próximo,
nem numa cidade de brinquedo,
nem numa cidade de verdade.
Modernizadas amazonas (17/08/2022)
Como são belas as mulheres
frágeis em suas frágeis motos,
assim como frágil é a vida
em cima de uma moto.
Modernizadas amazonas
em sua ânsia de mostrar
coragem e autonomia
indo às suas ocupações,
indo às suas distrações,
indo às suas frustrações,
para o além indo…
E também voltando,
quando possível for,
enfrentando os perigos do mundo,
usando a tempestade oculta
em seu aspecto de bonança.
Modernizadas amazonas
me encantam e preocupam,
pois nem toda a tragédia
é intimidada pela beleza.
Poema imprevisto (23/06/2022)
Quando a desgraça nos bate a porta,
Nossa vida vira do avesso.
Ninguém espera por um tropeço,
Se desespera com a sina torta.
Ninguém sabe onde encontrar forças,
Mas sempre procura nos seus.
É que quem nos encontra é a força,
Essa energia que se chama Deus.
Ele entra em nossa sintonia
E nos dá um caminho a seguir.
O tempo acomoda a agonia
E voltamos assim a sorrir.
Obsolescência (05/03/2022)
Nem toda a modernidade
é de fato evolução.
Às vezes a novidade
só satisfaz a ambição.
E é bem triste
quando o invento
por conveniência surge.
Mostra que a ciência urge
a atender o momento
e inutilizar o que existe.
Sobretudo,
o valor do dinheiro
inverte os valores...
e encerra com o valor
de tudo o que é importante,
de tudo o que me é cativante.
***
Obsoleto eu,
vira lixo o que é seu.
Sem nome (02/07/2021)
Tornei-me um (f)útil androide,
Para dar conta de tantas contas
E da incalculável palpável papelada.
Girando, (re)fazendo… [ – Gerúndios, em frente!]
Tornei-me um burocrata insensível!
Não há mais espaço para a poesia;
Nem para qualquer arte que não faça parte
Do programa pelo líder instituído.
Sentimentos só me fazem errar,
Pois não se encaixam nos dados
Das minhas planilhas…
E me desfocam do meu fim.
Preciso ser profissional,
Acima de tudo,
Acima de todos,
Sem espaço para o ocasional.
Preciso cumprir!
Compromissos que (não) assumi.
Autorama (23/11/2020)
Nasci em uma cidade pequena,
com oportunidades pequenas,
pessoas pequenas
e horizontes pequenos.
Como nunca me vi grande,
daqui não desejei sair.
Quando tentei crescer com esse lugar,
me vi pequeno
em importância,
em capacidade,
em visão de mundo.
E fiquei imóvel
nesse campo pequeno,
que, ao que parece,
gosta da sua pequenez.
(Acho que me habituei à minha.)
O mal (20/11/2020)
O mal que há em mim
sorrateiro surge.
Repentina fúria,
demoníaca possessão,
que fere, destrói
e desconsidera.
O mal que há em mim
ignora
o meu ser,
embrulha
os meus sentimentos
e anula
a minha consciência.
O mal que há em mim
precisa ser domado
antes que me domine.
Solidão (15/10/2020)
A solidão
se sente
só.
Quem se conhece
e lida bem consigo
nunca está
sozinho.
***
Quem necessita do outro
constantemente
permanentemente
se sente
perdido.
(e confuso)
E a confusão de cada um
o caos coletivo faz nascer.
Ninguém se faz entender.
Ninguém é, contudo, compreendido.