Poema imprevisto (23/06/2022)

 Quando a desgraça nos bate a porta,

Nossa vida vira do avesso.

Ninguém espera por um tropeço,

Se desespera com a sina torta.


Ninguém sabe onde encontrar forças,

Mas sempre procura nos seus.

É que quem nos encontra é a força,

Essa energia que se chama Deus.


Ele entra em nossa sintonia

E nos dá um caminho a seguir.

O tempo acomoda a agonia

E voltamos assim a sorrir.

Obsolescência (05/03/2022)

Nem toda a modernidade

é de fato evolução.

Às vezes a novidade

só satisfaz a ambição.


E é bem triste

quando o invento

por conveniência surge.

Mostra que a ciência urge

a atender o momento

e inutilizar o que existe.


Sobretudo, 

o valor do dinheiro

inverte os valores...

e encerra com o valor

de tudo o que é importante,

de tudo o que me é cativante.


***


Obsoleto eu,

vira lixo o que é seu.

Sem nome (02/07/2021)

Tornei-me um (f)útil androide,

Para dar conta de tantas contas

E da incalculável palpável papelada.

Girando, (re)fazendo… [ – Gerúndios, em frente!]


Tornei-me um burocrata insensível!

Não há mais espaço para a poesia;

Nem para qualquer arte que não faça parte

Do programa pelo líder instituído.


Sentimentos só me fazem errar,

Pois não se encaixam nos dados

Das minhas planilhas…

E me desfocam do meu fim.


Preciso ser profissional,

Acima de tudo,

Acima de todos,

Sem espaço para o ocasional.


Preciso cumprir!


Compromissos que (não) assumi.

Autorama (23/11/2020)

Nasci em uma cidade pequena,

com oportunidades pequenas,

pessoas pequenas

e horizontes pequenos.


Como nunca me vi grande,

daqui não desejei sair.


Quando tentei crescer com esse lugar,

me vi pequeno

em importância,

em capacidade,

em visão de mundo.


E fiquei imóvel

nesse campo pequeno,

que, ao que parece,

gosta da sua pequenez.


(Acho que me habituei à minha.)

O mal (20/11/2020)

O mal que há em mim

sorrateiro surge.

Repentina fúria,

demoníaca possessão,

que fere, destrói

e desconsidera.


O mal que há em mim

ignora

o meu ser,

embrulha

os meus sentimentos

e anula

a minha consciência.


O mal que há em mim

precisa ser domado

antes que me domine.

Solidão (15/10/2020)

A solidão

se sente

só.


Quem se conhece

e lida bem consigo

nunca está

sozinho.


***


Quem necessita do outro

constantemente

permanentemente

se sente

perdido.


(e confuso)


E a confusão de cada um

o caos coletivo faz nascer.


Ninguém se faz entender.

Ninguém é, contudo, compreendido.

Foguetinho (02/08/2020)

 Lá vai o esperto Apollo,

pulando, correndo, descobrindo...

Difícil é vê-lo no solo!

Brincando, mexendo, subindo,

não para quieto no colo!


Como um foguete,

busca sempre a novidade.

Olha quanta felicidade,

no alto, todo contente.


Cinza e branco, é um lindinho.

Que espanto de gatinho!


Quando está espevitado,

o bichano é um danado!

Testa de todos a paciência,

usando a sua sapiência.

Pinguinho de gatinho (02/08/2020)

 O felino Thor

é mesmo um herói!

Tão querido

que é um amor,

tão pequeno

que até dói.


Come, come

e volta a comer.

Isso é o que ele

mais sabe fazer.


Com o olhar sempre profundo

e o sorriso maior do mundo,

ele afasta qualquer mau caminho,

pois é o pinguinho de gatinho.


É engraçado e a todos encanta,

de sua família os males espanta.


Calejado (29/04/2020)

Apesar dos pesares,
Eugênio sempre vencia
as batalhas da vida.

Mas,
como na história
da água mole em pedra dura,
Eugênio via-se
cada vez mais fragilizado,

depois de tanto lutar...

No fim,
acabou perdendo uma guerra
que nunca idealizara.

Alguém (29/04/2020)

Roubaram todos
os seus documentos.

De uma hora para outra,
descobriu-se um ninguém...

...o que se seguiu
até depois
de recuperar seu papel.