Mais eu me apaixono (26/04/2025)

Estamos juntos há tempos milhares,
sempre juntos, para o que der e vier.
Quanto mais eu conheço outras mulheres,
mais eu me apaixono pela minha mulher.
 
Por mais que tenhamos diferentes humores,
cuidamos um do outro, para o que der e vier.
Quanto mais eu conheço outras mulheres,
mais eu me apaixono pela minha mulher.
 
A vida nos mostrou que, apesar de calores e amores,
sentimento é compreensão e doação, para o que der e vier.
 
Quanto mais eu conheço outras mulheres,
mais eu me apaixono pela minha mulher.

Nôzinho (23/04/2025)

Nôzinho come banana,
Nôzinho come melão.
Nôzinho vem fazer nana
pertinho do meu coração.

Nôzinho, gatinho sapeca.
Nôzinho, gatinho amado.
Agarra firme a peteca,
agarra o nó do calçado.

Nôzinho, floquinho de neve.
Nôzinho, bolinha de pelo.
Que o tempo nunca te leve,
escuta aqui o meu apelo.

Versos de varde (20/04/2025)

Eu adoro livros de bolso!  

Porque a minha casa é de bolso,  

a minha vida é de bolso...  


Mas...  

não adianta eu ficar aqui  

fazendo estes versos de varde.  


Aliás,  

nem existe "de varde".  

Li num livro  

que o correto é "debalde".  


Só que "debalde"  

não cabe neste poema.  

O balde enche demais  

e este poema é vazio.  


E, além do mais,  

o "de varde" é tão correto  

quanto a minha vida vazia.  


Estou cheio! 

A arte de versejar (13/04/2025)

A arte de versejar,
como posso explicar,
é se reorganizar
e se ressignificar.

É uma forma de catarse,
de, quem sabe, expressar-se,
de amar-se, de doar-se
e, também, de explicar-se.

É abrir o coração e a mente
para toda e qualquer gente
que de arte um tanto entende
e se entreter pretende.

Controversa (10/04/2025)

Ela sempre lembrava

do que devia esquecer

Ela sempre esquecia

do que devia lembrar


Ela sempre sorria

quando devia chorar

Ela sempre chorava

quando devia sorrir


Ela sempre buscava

o que devia evitar

Ela sempre evitava

o que devia buscar


Estava sempre acordada

quando devia dormir

Estava sempre dormindo

quando devia acordar

O demônio tenta (09/04/2025)

O demônio provoca,

instiga.

O desejo ele evoca

e o caos abriga.


A intriga

o demônio invoca.

Ele futrica

e a sociedade choca.


Ele atiça a tormenta

e o mal prossegue.

O demônio tenta

e às vezes consegue.

O Fantástico Circo Pau-Brasil (04/03/2025)

O Fantástico Circo Pau-Brasil

conta com patéticos palhaços

que driblam a humilhação diária

com pura bandalha e malandragem.


Há ainda alardeadas marionetes

que idolatram o atroz titereiro

e que, acostumadas à manipulação,

agarram-se aos cordéis umbilicais.


O espetáculo é visto rotineiramente

por um pequeno e lúcido público

que não gosta daquilo que vê

e reclama do preço dos lanches,

mas patrocina e aplaude ternamente.

Restauração (28/01/2025)

Depois de tantos anos de convivência,

nosso romance tem perdido a efervescência.

Mas é possível perceber a sua potência

quando sinto a sua doída ausência.


Minhas reclamações, meu estado nervoso,

são sinais da mais pura insegurança.

Minhas reinações, meu andar ansioso,

é um volátil voltar a ser criança.


O nosso silêncio diz muito!

Diz o que não precisa ser dito.

Pois, se não há diálogo fortuito,

basta curtir o sentimento bendito.


Sinto-me hoje como seu pai,

ou seu irmão mais próximo;

talvez o seu melhor amigo –

mais do que o companheiro.


Pois, para todo o “ai”,

para a falta de dinheiro,

ou quando nada está ótimo,

você é o meu melhor abrigo.


Você, que nunca mais será uma estranha,

que está encravada nas minhas entranhas,

qual tesouro bem protegido,

no futuro e nos tempos idos.


Espero que haja calor depois do inverno,

que haja harmonia depois do inferno,

pois não há crise que para sempre dure

nem ferida que o tempo não cure.

Relatividade (17/01/2025)

Às vezes, o barato sai caro. 

Mas o caro sempre sai caro!


Nem sempre a vida nos dá condições 

de buscar aquilo que é melhor. 

Às vezes, o que nos sobra 

é fazer o que se pode.


Às vezes, pode-se muito pouco. 

Mas o seu pouco para alguém é muito!


Às vezes, pouco é muito... 

De qualquer forma, 

estamos fartos!

Bolhas (08/01/2025)

Todos criam sua própria realidade

para fugirem da triste verdade. 


Há o cadeirante que ganha velocidade

na cadeira movida à eletricidade.

Há o colecionador que atrai felicidade

com artigos de alguma raridade. 


Todos criam sua própria realidade

para fugirem da triste verdade.


Há o sonhador que usa a criatividade

para testar a sua (in)capacidade.

Há o indivíduo que muda de cidade

em busca de aceitabilidade.


Todos criam sua própria realidade

para fugirem da triste verdade.


Há o poeta que escreve com liberdade

versos que desafiam a trivialidade.

Há a internauta que mente a idade

num rompante de pura vaidade.


Todos criam sua própria realidade

para fugirem da triste verdade.