Manhãs de sábado (03/09/2022)

Erechim se transforma

numa cidade grande

nas manhãs de sábado!

Ou melhor,

Erechim regurgita

problemas de cidade grande

nas manhãs de sábado…


Vendedores informais

trocam muamba

que ninguém deseja

pela refeição do dia.

Pessoas diversas,

incógnitas para mim,

insignificantes para o poder,

tentam me convencer

de que sua fome é tanta

que vai além do sábado.

Porta-vozes de políticos

incógnitos e insignificantes

tentam me convencer

de que a sorte

dos vendedores informais,

dos famintos persistentes,

de todos, enfim,

mudará do voto em diante.


Mas só a sorte

dos políticos e asseclas

empanturrar-se-á

nos próximos fins de semana.

Pois a sorte, a fome, a sina…

não terão um fim muito próximo,

nem numa cidade de brinquedo,

nem numa cidade de verdade.

Modernizadas amazonas (17/08/2022)

Como são belas as mulheres

frágeis em suas frágeis motos,

assim como frágil é a vida

em cima de uma moto.

Modernizadas amazonas

em sua ânsia de mostrar

coragem e autonomia

indo às suas ocupações,

    indo às suas distrações,

        indo às suas frustrações,

para o além indo…

E também voltando,

quando possível for,

enfrentando os perigos do mundo,

usando a tempestade oculta

em seu aspecto de bonança.


Modernizadas amazonas

me encantam e preocupam,

pois nem toda a tragédia

é intimidada pela beleza.

Poema imprevisto (23/06/2022)

 Quando a desgraça nos bate a porta,

Nossa vida vira do avesso.

Ninguém espera por um tropeço,

Se desespera com a sina torta.


Ninguém sabe onde encontrar forças,

Mas sempre procura nos seus.

É que quem nos encontra é a força,

Essa energia que se chama Deus.


Ele entra em nossa sintonia

E nos dá um caminho a seguir.

O tempo acomoda a agonia

E voltamos assim a sorrir.

Obsolescência (05/03/2022)

Nem toda a modernidade

é de fato evolução.

Às vezes a novidade

só satisfaz a ambição.


E é bem triste

quando o invento

por conveniência surge.

Mostra que a ciência urge

a atender o momento

e inutilizar o que existe.


Sobretudo, 

o valor do dinheiro

inverte os valores...

e encerra com o valor

de tudo o que é importante,

de tudo o que me é cativante.


***


Obsoleto eu,

vira lixo o que é seu.

Sem nome (02/07/2021)

Tornei-me um (f)útil androide,

Para dar conta de tantas contas

E da incalculável palpável papelada.

Girando, (re)fazendo… [ – Gerúndios, em frente!]


Tornei-me um burocrata insensível!

Não há mais espaço para a poesia;

Nem para qualquer arte que não faça parte

Do programa pelo líder instituído.


Sentimentos só me fazem errar,

Pois não se encaixam nos dados

Das minhas planilhas…

E me desfocam do meu fim.


Preciso ser profissional,

Acima de tudo,

Acima de todos,

Sem espaço para o ocasional.


Preciso cumprir!


Compromissos que (não) assumi.

Autorama (23/11/2020)

Nasci em uma cidade pequena,

com oportunidades pequenas,

pessoas pequenas

e horizontes pequenos.


Como nunca me vi grande,

daqui não desejei sair.


Quando tentei crescer com esse lugar,

me vi pequeno

em importância,

em capacidade,

em visão de mundo.


E fiquei imóvel

nesse campo pequeno,

que, ao que parece,

gosta da sua pequenez.


(Acho que me habituei à minha.)

O mal (20/11/2020)

O mal que há em mim

sorrateiro surge.

Repentina fúria,

demoníaca possessão,

que fere, destrói

e desconsidera.


O mal que há em mim

ignora

o meu ser,

embrulha

os meus sentimentos

e anula

a minha consciência.


O mal que há em mim

precisa ser domado

antes que me domine.

Solidão (15/10/2020)

A solidão

se sente

só.


Quem se conhece

e lida bem consigo

nunca está

sozinho.


***


Quem necessita do outro

constantemente

permanentemente

se sente

perdido.


(e confuso)


E a confusão de cada um

o caos coletivo faz nascer.


Ninguém se faz entender.

Ninguém é, contudo, compreendido.

Foguetinho (02/08/2020)

 Lá vai o esperto Apollo,

pulando, correndo, descobrindo...

Difícil é vê-lo no solo!

Brincando, mexendo, subindo,

não para quieto no colo!


Como um foguete,

busca sempre a novidade.

Olha quanta felicidade,

no alto, todo contente.


Cinza e branco, é um lindinho.

Que espanto de gatinho!


Quando está espevitado,

o bichano é um danado!

Testa de todos a paciência,

usando a sua sapiência.

Pinguinho de gatinho (02/08/2020)

 O felino Thor

é mesmo um herói!

Tão querido

que é um amor,

tão pequeno

que até dói.


Come, come

e volta a comer.

Isso é o que ele

mais sabe fazer.


Com o olhar sempre profundo

e o sorriso maior do mundo,

ele afasta qualquer mau caminho,

pois é o pinguinho de gatinho.


É engraçado e a todos encanta,

de sua família os males espanta.