Valente Zorro (13/04/2023)

O valente gato Zorro

nunca deixa de atender

aos pedidos de socorro,

para o inimigo render.


É alvinegro

seu longo pelo.

É tão sedoso,

caudão garboso!


Não é medroso,

meu anjo negro.

Não é preguiçoso

para a qualquer apelo

ajuda empreender.

Vertigem (13/04/2023)

As coisas mudam

num piscar de olhos…

E moldam-se à

sociedade do agora.


Adapte-se ou sofra!

Aceite ou sofra.


Passou tudo aquilo

que era valorizado.

São só memórias,

ou alucinações…


Adapte-se ou sofra!

Aceite ou sofra.


O mundo gira

e leva ao chão

todo ser vivo

que fica parado.


Adapte-se ou sofra!

Aceite ou sofra.


Movimente-se

ou enterre-se.


Minha gatinha Cristalzinha (11/03/2023)

Cristalzinha, Cristalzinha,

Cristalzinha, minha gatinha.

Ela é bem pequenininha,

tão magrinha, tão fofinha.


Sempre, sempre, tão branquinha;

sempre, sempre, tão pestinha.


Cristalzinha, Cristalzinha,

Cristalzinha, minha gatinha.

Me parece tão fraquinha,

mas é muito dispostinha.


Sempre, sempre, tão branquinha;

sempre, sempre, tão pestinha.

Maquiagem (07/03/2023)

Não adianta enfeitar
uma árvore de Natal
sem alicerces.
Tudo irá ruir,
apesar da maquiagem.

É preciso cuidar do essencial,
que não ajuda a aparecer
nem aparece.
Mas sustenta,
mantém em pé,
de cabeça erguida.

E assim é possível
seguir em frente,
sem patinar.

Qual bandeira? (23/10/2022)

Qual é a bandeira que tu ostentas,

povo sofrível e sofrido?

Qual é a bandeira que tu ostentas,

defendendo lobo em pele de cordeiro,

tu também lobo em pele de cordeiro…?

Qual é a bandeira que tu ostentas

para exibir o teu umbigo sujo?

Qual é a bandeira que tu ostentas

para se sentir parte de algo,

para se fazer protagonista do mal?

Qual é a bandeira que tu ostentas,

apropriando-se do que não é teu?


A minha bandeira não é vermelha,

nem verde e amarela.

É branca!

Ou negra, ou multicor…

Tremula de tanta tensão

e está salpicada de sangue e lágrimas.

Manhãs de sábado (03/09/2022)

Erechim se transforma

numa cidade grande

nas manhãs de sábado!

Ou melhor,

Erechim regurgita

problemas de cidade grande

nas manhãs de sábado…


Vendedores informais

trocam muamba

que ninguém deseja

pela refeição do dia.

Pessoas diversas,

incógnitas para mim,

insignificantes para o poder,

tentam me convencer

de que sua fome é tanta

que vai além do sábado.

Porta-vozes de políticos

incógnitos e insignificantes

tentam me convencer

de que a sorte

dos vendedores informais,

dos famintos persistentes,

de todos, enfim,

mudará do voto em diante.


Mas só a sorte

dos políticos e asseclas

empanturrar-se-á

nos próximos fins de semana.

Pois a sorte, a fome, a sina…

não terão um fim muito próximo,

nem numa cidade de brinquedo,

nem numa cidade de verdade.

Modernizadas amazonas (17/08/2022)

Como são belas as mulheres

frágeis em suas frágeis motos,

assim como frágil é a vida

em cima de uma moto.

Modernizadas amazonas

em sua ânsia de mostrar

coragem e autonomia

indo às suas ocupações,

    indo às suas distrações,

        indo às suas frustrações,

para o além indo…

E também voltando,

quando possível for,

enfrentando os perigos do mundo,

usando a tempestade oculta

em seu aspecto de bonança.


Modernizadas amazonas

me encantam e preocupam,

pois nem toda a tragédia

é intimidada pela beleza.

Poema imprevisto (23/06/2022)

 Quando a desgraça nos bate a porta,

Nossa vida vira do avesso.

Ninguém espera por um tropeço,

Se desespera com a sina torta.


Ninguém sabe onde encontrar forças,

Mas sempre procura nos seus.

É que quem nos encontra é a força,

Essa energia que se chama Deus.


Ele entra em nossa sintonia

E nos dá um caminho a seguir.

O tempo acomoda a agonia

E voltamos assim a sorrir.

Obsolescência (05/03/2022)

Nem toda a modernidade

é de fato evolução.

Às vezes a novidade

só satisfaz a ambição.


E é bem triste

quando o invento

por conveniência surge.

Mostra que a ciência urge

a atender o momento

e inutilizar o que existe.


Sobretudo, 

o valor do dinheiro

inverte os valores...

e encerra com o valor

de tudo o que é importante,

de tudo o que me é cativante.


***


Obsoleto eu,

vira lixo o que é seu.

Sem nome (02/07/2021)

Tornei-me um (f)útil androide,

Para dar conta de tantas contas

E da incalculável palpável papelada.

Girando, (re)fazendo… [ – Gerúndios, em frente!]


Tornei-me um burocrata insensível!

Não há mais espaço para a poesia;

Nem para qualquer arte que não faça parte

Do programa pelo líder instituído.


Sentimentos só me fazem errar,

Pois não se encaixam nos dados

Das minhas planilhas…

E me desfocam do meu fim.


Preciso ser profissional,

Acima de tudo,

Acima de todos,

Sem espaço para o ocasional.


Preciso cumprir!


Compromissos que (não) assumi.